Os Melhores Filmes que Assisti em 2022

É engraçado que, todo ano, eu vou conferir o que escrevi nos melhores das épocas anteriores. Um pouco pra lembrar meus próprios critérios, mas também pra ver meu resumo mais pessoal, afinal, sempre usamos retrospectivas como desculpa para certos desabafos. Em 2021, escrevi sobre como o ano foi uma merda, mas bem, foi assim há mais tempo do que consigo lembrar. Culpar tudo à pandemia seria injusto. 2022 teve algumas conquistas, e em meio a uma frequente monotonia, 2023 reserva várias coisas que deveriam me animar, especialmente viagens, algo que sempre ansiei e o trabalho agora permite, por mais que nem sempre seja agradável fazê-lo. Bem, alguma recompensa tem de haver.

Cinematograficamente, achei um ano bem fraco. Cada vez tenho menos tempo e energia para assisti-los, justamente pelo trabalho, tornando difícil depositar esforço durante a semana com longas. Séries se tornam uma via, mas também há a culpa de que "a cada tantos episódios, eu poderia ter visto x filmes", como se um valesse mais e não fosse, por vezes, até uma perda de tempo maior. Ao todo, assisti 182 filmes em 2022, a menor quantidade desde que comecei a contar, em 2014, com exceção de 2019. Porém, se considerarmos somente os inéditos, esta quantia reduz para 149. Isso que ainda consegui uma folga por pegar covid e em dezembro, no recesso, fiz um intensivo vendo o máximo que consegui, ainda sem conseguir fechar tudo que gostaria. E ainda assim, sinto que gostei bem menos do que o esperado de filmes muito bem referendados da temporada, além dos que deixei passar. Acaba deixando um ar de filler em certas partes da lista, e o ranking dos melhores filmes vistos de outros anos com uma qualidade maior e gosto mais genuíno. 

Pois bem, este é o novo normal, tentar conciliar os prazeres com obrigações. Talvez jamais atinja os números do passado, e até reduzam. Vai saber. Mas paremos com as lamúrias. Vamos às regras.

Serão 2 listas. Além de elencar os melhores filmes lançados em 2022 que assisti, também montarei um com os melhores de outros anos e também mencionarei rapidamente filmes lançados em 2021 que só consegui ver neste ano, em grande parte devido ao calendário brasileiro desatualizado. O calendário utilizado será o internacional, portanto, considerando torrents. O problema do nacional, é que filmes de premiações costumam chegar por aqui somente com o buzz do Oscar, quando já saíram há meses ao redor do mundo, frequentemente sendo vazados para torrent antes da virada. Logo, acho anticlimático montar um top 10 filmes de um ano com várias posições tomadas por longas que muitos assistiram no ano anterior ou, no máximo, no começo do ano em voga. Fica mais repetitivo e saturado que eu escrevendo ano neste parágrafo. 

Assim, mantenho meu padrão tradicional de considerar filmes que ainda não saíram no Brasil, mas consegui assistir, assim como mencionar grandes obras que ficam nesse limbo e acabam sendo deixadas de lado em ambos os rankings. 

De resto, as regras seguem as mesmas dos outros tops: ordem decrescente, sem uma quantidade obrigatória, e comentários breves, com links direcionando para reviews, se eu as tiver feito. 

Para quem se interessar pelos tops anteriores: 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021. Melhores da Década, Melhores Animações da Década

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E é isso, vamos aos filmes, em ordem decrescente!

10 Avatar: O Caminho da Água - James Cameron

Crítica

Em 13 anos de espera, só não se sabota a sequência de Avatar justamente pela baixa expectativa gerada por este universo, num capítulo eventual e talvez mais tecnológico e impactante do que narrativamente efusivo. Se as abordagens técnicas visionadas por Cameron são de acessibilidade limitada, quanto mais conforme saímos de países desenvolvidos, é justamente a força narrativa que deveria carregar sua empreitada visionária. Mas não exatamente.

Quanto a enredo, Cameron tem pouco a dizer, com uma trama bastante convencional e flertando ao ultrapassado em relação a conflitos. O charme todo está no mundo que circula a própria história e seus personagens, estes melhorados com a expansão além do casal protagonista do original. Nisto, o diretor reforça seu status e entrega um longa quase, quase incomparável em relação a espetáculo, um chamariz necessário para estabelecer um cotejo com a Marvel do que é, mesmo, um blockbuster e qual seu potencial. 

9 Speak no Evil/Não Fale o Mal - Christian Tafdrup

Filme de desconforto e ansiedade, o longa dinamarquês consegue estabelecer uma atmosfera Hanekiana (ver Funny Games) para discutir a impotência e passividade perante intimidação, numa provocação prazerosa e torturante que vai nos asfixiando até o inevitável final, que também desafia o cinema americano e suas convenções. 

8 O Homem do Norte - Robert Eggers

Crítica

É incrível ter uma experiência imediata e arrebatadora no cinema, daqueles que lhe prendem e só soltam ao final da sessão, já em exaustão. Mas o melhor da arte está na que perdura, na que cresce. Que talvez não tenha sido um contato prematuro de êxtase, mas que lhe instiga e desafia, até se tornar uma memória perene. Minha primeira vez com Northman foi o primeiro exemplo. E aí, talvez, cometi o erro de voltar rapidamente a ele e me ver até enfastiado, distante da surpresa inicial. Fica o mérito da pulsão e concepção visual de Eggers, ainda que talvez os últimos 3 ou 4 longas dessa lista poderiam ser substituídos se eu tivesse mais tempo ou o usado melhor com outros filmes. 

7 Triângulo da Tristeza - Ruben Östlund


A metralhadora de ideias de Ostlund lhe rendeu uma segunda Palma de Ouro sem conferir novas ideias, mas sim diferentes maneiras de reciclar o seu próprio cinema, num tom que vem desde The Square, a origem da primeira Palma de Ouro. A questão do cinema de Ostlund está nos excessos. É uma deliberação, visto que a intenção está na sátira, na paródia da burguesia e seu estilo de vida, se apoiando em superlativos, no sensacionalismo. Os excessos são divertidos, absurdos, além da vaidade de rir da "elite" financeira, mas também possui um prazo de validade do quanto conseguimos nos afeiçoar à tela vendo uma obra fria e distante de caçoar. Até a passagem do navio, o diretor domina o espectador, progressivamente o perdendo no epílogo insular. 

6 O Predador: A Caçada - Dan Trachtenberg

Quem diria que um filme do Predador passado no Século XVIII, atacando uma tribo Comanche, pudesse não somente dar tão certo, como ser a única sequência digna desta franquia tão derrocada.

O grande trunfo não está numa meta típica de sequências e que vinha sendo a regra nos Predador, que é buscar tornar tudo maior, mais épico, e perder a escala e a atmosfera survival brutal, porém intimista do original, que adere ao mais primitivo do instinto de sobrevivência para criar tensão e empolgação. Até por isso, adotar um nicho que dispensa armas de fogo e com uma jovem Comanche, do começo ao fim, serve para desconstruir o gênero e apostar no mesmo espírito do original, beneficiados por uma atuação central visceral de Amber Midthunder e uma direção ágil e dinâmica da ação e suspense. 

Como eu disse na introdução, a melhor experiência está em se surpreender de onde nada se espera. 

5 Argentina, 1985 - Santiago Mitre


Cinema manifesto e de protesto, Argentina, 1985 não reinventa as técnicas narrativas, sendo bastante convencional nisto. Mas trata com seriedade e sobriedade um dos períodos mais perversos de seu país, um lembrete histórico em tempos que o passado já ameaça se apagar e se reinventar, como tragédia ou farsa, tanto faz. Pesa contra o tom catártico que ele dá para seus resultados, quando infelizmente uma rápida pesquisa mostra como poucos dos culpados sofreram a punição devida. 


4 Pinóquio - Guillermo Del Toro


Uma revitalização fabulesca com contornos dos Irmãos Grimm, menos perversa que a original, mas sem perder os contornos da beleza através do macabro. O stop-motion por si só carrega uma melancolia poética em sua arte, o que casa bem com o espírito escolhido por Del Toro em sua visão do clássico. Pinóquio é mesmo construído com a madeira da humanidade, de uma inocência que se perde, mas permanece o suficiente para trazer revolução e fantasia num cenário de dor e rigidez. Nunca é fácil, mas qual seria a alternativa?

3 Top Gun: Maverick - Joseph Kosinski

Crítica

Dizem que o cinema deve vir a sobreviver de filmes evento, e que o efeito da Pandemia foi definitivo nas mecânicas de distribuição na indústria, focando em lançamentos por streaming ou simultâneos de janelas exclusivas curtas para obras menores. E se tem um tipo de blockbuster que pode manter e revitalizar a empolgação cultura com o cinema, são filmes como o segundo Avatar e este Top Gun.

É engraçado que mesmo se tratando de uma sequência tardia, o menor valor do filme está em sua nostalgia. Sim, o longa é bastante classicista em sua estrutura, bastante à moda antiga, e isso somente expõe nossa saudade deste tipo de cinema, convicto em sua própria fantasia, confiante no próprio valor emocional aos mais primitivos sentimentos humanos, todos catapultados pelo rosto eterno de Tom Cruise, desafiando a própria idade e entregando, com uma atuação apaixonada, uma carta de e para o cinema. Uma obra calorosa e sentimental, muito oposta ao realismo cínico que a Marvel nos acostumou. 

2 The Banshees of Inisherin - Martin McDonagh

A maior virtude em um filme cheio delas, muitas das quais devem ter me passado despercebidas em uma primeira vista, está na neutralidade de Martin em relação aos personagens. A distinção de personalidade e o motivo do conflito do longa é bem explícito, objetivo e inicial. O resto discorre de acordo com isso. Ora pendemos pro personagem de Gleeson, ora nos afeiçoamos à fragilidade de Farrell. Racionalidade e legado contra a inofensividade da bondade insossa. Simplicidade e ser esquecido, ou tormento através do reconhecimento da própria insignificância? Como estaria o personagem de Farrell na idade de Gleeson? É um filme que frustra deliberadamente em seu final pela ausência de respostas. Resta a meditação, o desafio de um grande argumento. Sobre ser deixado pra trás, e o que deixamos pra trás. Será a vida feira de tréguas temporárias em meio a uma beligerância incessante? 

1 Aftersun - Charlotte Wells

O oposto de The Northman, Aftersun foi um filme qual fui ao cinema completamente ignorante de sua trama, e ao ver que se tratava de um longa protagonizado por "criança", já me prostrei e resignei à insatisfação. E bem, eu não poderia estar mais errado. 

Aftersun é um conto que cresce em nós e mantém uma memória pulsante justamente por tratar devidamente disto: nossa memória, o efeito temporal do envelhecer e como determinadas experiências deixam marcas pungentes e definem quem somos, e quem nos tornaremos. Como se tornam referências inalcançáveis, de algo que foi feliz e hoje se torna melancólico por nunca ter se repetido. 

Pois apesar de retratar uma viagem feliz entre pai e filha, ela está num escopo de despedida, de algo que nunca mais se repetiu. Um cinema se sentimentos. 

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Gostei de filmes como The Batman, Glass Onion, Bones and All, Crimes of the Future, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e Elvis, mas não tanto quanto gostaria, ou o suficiente para entrar nessa lista. Outros muito comentados como Nope e Decision to Leave, melhor ignorar. Mas a beleza do cinema está nesta imprevisibilidade mesmo. Gostar do inesperado e não só do comum.

Outros populares como Tár, The Fabelmans, RRR, After Yang e The Whale, ainda não conferi.  

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Bons filmes de 2021 que só vi esse ano

Um Herói - Asghar Farhadi
Aloners - Hong Seong-eun
Mass - Fran Kranz
A Pior Pessoa do Mundo - Joachim Trier
Boiling Point/O Chef - Philip Barantini

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Melhores Filmes que Assisti de Outros Anos


E.T.: O Extraterrestre (1982) - Steven Spielberg

A magia da fantasia pela ótica infantil por um dos nomes que melhor a entendeu. No cinema, sem preço. 

Nascido em 4 de Julho (1989) - Oliver Stone 

O anti-patriotismo. Morte pelo fantasma do comunismo. 

20th Century Nostalgia (1997) - Masato Hara

A felicidade na ingenuidade. 

The Family Game (1983) - Yoshimitsu Morita

Morte por opressão. A farsa sistemática nas transformações da sociedade japonesa rumo ao desenvolvimento. 

Love & Mercy (2014) - Bill Pohlad

A criatividade isola. 

The Green Butchers (2003) - Anders Thomas Jensen

Estranhamento e obsessão. 

Zodíaco (2007) - David Fincher

Sequência espiritual do magnífico Memories of Murder. 

The Kid Detective (2020) - Evan Morgan

Crescer e ser esquecido pelo mundo. 

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E é isso, meus queridos e idas. Que seu 2022 não tenha sido tão horrível, ao menos nos filmes, e que 23 nos reserve um calendário mais próspero e rico!

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2 comentários:

  1. Trabalhar acaba com nosso tempo precioso de entretenimento. Triste. Muitos filmes tb não consegui ver, embora eu tenha conferido mais de 200 esse ano.

    Boa lista. Apesar de não ter visto nem metade dos listados, quase todos os demais já pretendia ver. Ainda não tive a oportunidade de ver Top Gun, que muitos até falam de ser o melhor. Tô querendo muito ver Duna e O Homem do Norte tb (e vários outros rs).

    Tb não achei o ano tudo isso não, até me indaguei se eu faria mesmo uma lista faltando tantos filmes pra ver. Meu top 10 acabou sendo (e considerando lançamento brasileiro, diferente do que vc fez), do melhor ao menos melhor:

    - Pinoquio de Guillermo Del Toro
    - 13 Vidas: O Resgate
    - Avatar 2
    - Batman
    - Elvis
    - O Predador: A Caçada
    - A Fera do Mar
    - Pânico 5
    - The House
    - A Lenda do Cavaleiro Verde

    Menções: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo /// Luta pela Fé - A História do Padre Stu

    E de costume tb faço a lista (descompromissada) de filmes de outros anos que vi só depois. Dessa vez os melhores foram: No Portal da Eternidade, Incêndios, Última Parada 174, Neruda, Em Silêncio, Hope, A Pequena Loja dos Horrores, Noite Passada em Soho, O Iluminado, ... E o Vento Levou, A Vastidão da Noite, Turma da Mônica: Lições, A Vida Imortal de Henrietta Lacks, Espontânea, Meia-Noite em Paris.

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    1. No geral, a lista do filme dos outros anos é bem melhor e mais genuína. Eu enchi mta linguiça pra completar número nos do ano. Não que sejam ruins, mas não são filmes que eu amo, como gostaria, para colocar num top 10. Nesses últimos dias desde o texto vi alguns. Achei Fabelmans obra-prima. Talvez botasse até Gato de Botas 2.

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