Os Melhores Filmes que Assisti em 2023

Eu juro que estou escrevendo isso, por mais que se pareça tanto com os rankings passados. Mas como disse ano passado, sempre releio o último pra relembrar meus próprios critérios e ter uma ideia retroativa de como estava minha cabeça em tal período, o que eu sentia e fiz em tal momento. É uma espécie de retrospectiva.

Pois bem, acho que depois de velho as coisas não mudam com tanta intensidade, né. Iniciei o ano ansioso pra várias viagens e realmente as fiz. Foi bem bacana. Aquele negócio de mudança de perspectiva, ampliar horizontes. A parte ruim é tu ter um comparativo com teu país mesmo. E o desejo de querer fazer mais vezes e não poder. Mas foi um ano bacana, com algumas conquistas, mudanças, e outros problemas de sempre. A vida. Juro que estou tentando mudar. Fiz parte de meu primeiro Júri como crítico, consegue credencial pra Gramado. Alguma coisa andou, digamos. 

Em questão de tempo, não mudou muito. Não sei como está com outras profissões, mas não sejam dentistas, crianças (risos). Segundo o Letterboxd, foram 191 filmes assistidos em 2023, sendo destes um recorde negativo de 137 inéditos. Acontece. Acho que foi o ano que mais revi coisas no cinema em muito tempo e mais revi no geral desde que me tornei adulto. Sabe como é, você vira cinéfilo, começa a trabalhar e cria uma neura, uma ansiedade de só ver filmes e coisa nova pois rever seria como perder tempo. Eu sei que está errado, mas é um pensamento intrusivo. Tentei aliviar isso. Revi muita coisa. Coisas de conforto, como animações, Harry Potter e Senhor dos Anéis, quais deixo bastante de fundo quando quero relaxar, e algumas pra reavaliar após um bom tempo mesmo, ou apresentar a meu irmão ou amigos. 

Com relação aos lançamentos de 2023, comparando ao ano anterior, acho que foi uma época mais positiva ao cinema. Muitos diretores renomados retornando e novos nomes surgindo com boas ideias e sensibilidade. Tanto que mesmo sem ter conseguido conferir uma boa porção de lançamentos ditos entre os melhores do ano por críticos, tive dificuldade (positiva) de montar meu ranking. Já no geral, fica a confirmação de uma suposta morte do cinema de heróis e a derrocada do blockbuster americano. Nunca se viu tanto fracasso retumbante, mesmo de franquias. Indiana Jones, Marvels, Flash, Velozes 10, Shazam 2. Perdas grandes. A Disney finalmente vendo anos de mediocridade e um cinema preguiçoso não sobrevivendo somente pela marca, e a Warner bem desesperada. O sistema de estúdios combalido e produtoras menores, como a célebre A24, ditando a regra. Além do sucesso do cinema internacional no tão tradicionalmente caseiro e arrogante território americano. Parasita abriu portas e perceberam que o que vem de casa nem sempre é o melhor (ou nunca é, risos). 

Fica a lamúria, novamente, por perder tantas coisas bem referenciadas pela retrógrada e deficiente distribuição nacional de filmes. Alguns longas bem cotados na temporada, como o novo de Miyazaki, Zona de Interesse, Perfect Days, Fallen Leaves, Poor Things, entre tantos outros, não tive o privilégio de conferir. E nem entrarei no mérito de que muitos só consegui por meios ilegais, por necessidade, não desejo. É meio triste porque vários desses tenho certeza de que seriam bem cotados por mim, e aí parte do ranking acaba ficando desatualizado. 

Enfim, sem mais delongas, vamos aos critérios e, é claro, às listas.

Serão 3 listas. Além de elencar os melhores filmes lançados em 2023 que assisti, também montarei um com os melhores de outros anos e também mencionarei rapidamente filmes lançados em 2022 que só consegui ver neste ano, em grande parte devido ao calendário brasileiro desatualizado. O calendário utilizado será o internacional, portanto, considerando torrents. O problema do nacional, é que filmes de premiações costumam chegar por aqui somente com o buzz do Oscar, quando já saíram há meses ao redor do mundo, frequentemente sendo vazados na web antes da virada. Logo, acho anticlimático montar um top 10 filmes de um ano com várias posições tomadas por longas que muitos assistiram no ano anterior ou, no máximo, no começo do ano em voga. Fica mais repetitivo e saturado que eu escrevendo todo ano este parágrafo. 

Assim, mantenho meu padrão tradicional de considerar filmes que ainda não saíram no Brasil, mas consegui assistir, assim como mencionar grandes obras que ficam nesse limbo e acabam sendo deixadas de lado em ambos os rankings. 

De resto, as regras seguem as mesmas dos outros tops: ordem decrescente, sem uma quantidade obrigatória, e comentários breves, com links direcionando para reviews, se eu as tiver feito. 

Para quem se interessar pelos tops anteriores: 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021, 2022. Melhores da Década, Melhores Animações da Década

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E é isso, vamos aos filmes!

10º The First Slam Dunk - Takehiko Inoue

Crítica

Foi difícil decidir o último da lista, e talvez outros merecessem estar aqui. Fico com Slam Dunk como homenagem para uma série que gosto tanto, para animações, que como supracitado, tanto aprecio, ao basquete que adoro e ao cinema japonês, meu favorito. Como tal, TLSD, que levou mais de duas décadas para concluir em audivisual a obra-prima de Takehiko Inoue, reforça todos os valores presentes na obra, sua excitação juvenil de como tudo parece significar a vida naquele momento, os fulgores da masculinidade pueril e o delírio de ver o mundo aberto e com tantas possibilidades em frente. 

9º Nimona - Nick Bruno, Troy Quane

É o nome da minha gata, caras. Cinema pode ser expresso em fantasia, horror, drama, scifi, com monstros, espadas, viagens no tempo e o que for. Mas é sobre gente, nossos sentimentos e necessidades. A animação, que tanto me maravilha por seu alcance, é o alicerce perfeito para trazer tantas possibilidades visuais num conto que, como digo tanto nessa lista, fala sobre empatia e a capacidade de entender o próximo, até para aceitar coisas de si mesmo. Um filme lindo, tocante e divertido. 

8º Os Rejeitados - Alexander Payne

Ainda há espaço para o cinema simplório e tão caloroso de Alexander Payne na sociedade cínica e tecnocrata atual. E só vendo um desses que percebemos o necessitar. Um diretor que parece não ter grandes ambições temáticas, mas lida com a maior delas, que é o coração humano e sua necessidade por pertencimento, amor e amizade. No fim, como ditam os moldes narrativos desde sempre, o mais desajustado de nós sempre vai encontrar alguém igual, que pode não perceber, mas o necessita também. Um dos apertos de mão mais significativos que já vi em um filme, e um novo episódio canônico para filmes natalinos. 

7º Assassinos da Lua das Flores - Martin Scorsese

Crítica

Scorsese atingiu um nível de domínio sem precedentes. E com uma linguagem mestrada, porém não fria, usa de seu nome e capacidade para um cinema de reparo e ressignifação, como reconhece naquele final metalinguístico, porém jamais presunçoso. 

6º Afire - Christian Petzold

O cinema de desconfiança de Petzold é uma variação europeia do coreano Hong Sang-soo, que parece sempre fazer o mesmo filme, sobre as mesmas peças, não exatamente em busca de algo diferente, mas com reflexões particulares do realizador em seu tempo específico. Com frequência centrando em um homem das artes, aqui Petzold busca a redenção através de um desespero por atenção, compreensão e amor num estado de beligerância. Tudo tão caótico, quente, sedutor e prestes a se incendiar que não resta sutileza e flerte na relação cotidiana. Mas não se cansa de buscar. 

5º Monster - Hirokazu Kore-eda

O cinema japonês é meu cinema favorito, e Koreeda foi, por um bom tempo, meu cineasta favorito. É uma escola que sabe trabalhar com o minimalismo e a introspecção e, portanto, melhor entende o âmago humano em seus detalhes, idiossincrasias, o belo e o feio. Monster é um espelho do belga Close dentro do contexto japonês, um tanto retrógrado e rígido para tal assunto, mesmo dentro de um país tecnologicamente tão evoluído. Tanto que acabou esquecendo muito do lado humano para isto, que é o que as artes locais tentam alertar e resgatar. Obras como esse Monster. 

4º Oppenheimer - Christopher Nolan

Crítica 

O filme mais maduro de Nolan é também seu melhor em mais de uma década, e que bom que ele levou algum tempo para fazê-lo. Um assunto espinhoso que Nolan consegue tecer com dinâmica e equilíbrio para compartilhar tanto o brilhantismo científico por trás da tecnologia da bomba quanto o tragédia que trouxe sua utilização, culminando numa atuação fenomenal de Cillian Murphy e seu olhar estático e catatônico perante tal resultado. É um filme bonito de se olhar, mas difícil de se sentir. 

3º Godzilla Minus One - Takashi Yamazaki

Crítica

Um estrondoso retorno do Deus dos Monstros ao cinema nipônico, e um lembrete de sua magnitude. Godzilla Minus One é um filme alegórico e cheio de símbolos, com carga emocional e dramática, sem esquecer o cinema de gênero, e nele, entregando um blockbuster que é um verdadeiro milagre técnico dentro de tão diminuto orçamento. Um resquício do poder do talento em transformar pouco em muito. 

2º Vidas Passadas - Celine Song

Esperei bastante o momento certo pra conferir este por um certo receio de me identificar demais com sua sinopse e, bem, me machucar. Um filme delicado e introspectivo sobre uma certa melancolia que o tempo traz acerca de nossas escolhas. Não é sobre arrependimento ou amargura, mas aceitar que uma vida bem vivida, por mais feliz que seja, sempre deixará pedaços que amamos e nos direcionariam para outros lados perdidos por aí. Nunca conseguimos carregador tudo, e progredir sempre irá implicar em sacrifícios, mas estes talvez nunca deixem de doer. Felicidade e dor, afinal, andam juntas. 

1º Homem-Aranha: Através do Aranhaverso - Joaquim Dos Santos, Kemp Powers, Justin Thompson

Acabei não escrevendo sobre Aranhaverso 2 pois estava viajando e perdi o "hype". Mas vê-lo deslocado assim, meio desorientado, sem tanta expectativa (por mais que ame o 1º) propiciou uma das melhores experiências que já tive vendo um filme no cinema. No IMAX, a profundidade da imaginação visual da produção salta aos olhos, com tantos estímulos, ideias e formas que o conferi duas vezes na mesma semana. Numa época em que a animação Ocidental mainstream está aborrecida, enfadonha e repetitiva, Aranhaverso 2 é um sopro de criatividade para contar uma história sobre tantos valores mundanos e simples de maneira rica e engenhosa. 

Menções honrosas: Priscilla, de Sofia Coppola; O Assassino, de David Fincher; When Evil Lurks, de Demián Rugna; Beau Tem Medo, de Ari Aster; Shin Kamen Rider, de Hideaki Anno; Air, de Ben Affleck e Retratos Fantasmas, de Kléber Mendonça Filho. 

Bons filmes de 2022 que só consegui assistir em 2023

Close, de Lukas Dhont

Sabe quando os conservadores ou "liberais" questionam a necessidade de se conversar sobre questões não normativas na escola e em sociedade? Por situações assim. 

Os Fabelmans, de Steven Spielberg

Spielberg pega o subgênero mais modorrento do cinema e o faz uma aula. Cheio de coração, magia, arrependimento e perdão. Tem tudo aqui. Um filme perfeito. Meu 2º favorito de 2022, atrás somente de Aftersun. 

Gato de Botas 2, de Joel Crawford

Acho que a maior evolução de uma sequência. Raros níveis de apreciação nível Paddington 2. 

Tár, de Todd Field 

Melhores Filmes que Vi de Outros Anos

Alegria de Verão (1966), de Bruce Brown 

Tem gente que sabe viver, né? Uns caras rodam o globo sempre em busca do verão e ondas. Com alguns elementos raciais datadas, vale dizer.

Último Duelo (2004), de Johnnie To
Rio, Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos
RRR (2022), de S.S. Rajamouli

O cinema blockbuster perdido no Ocidente é reencontrado aqui. Tem de tudo, e sempre feito com encanto, paixão e coração.

Férias Frustradas de Verão (2009), de Greg Mottola 


A juventude como deveria ser. Ou gostaríamos que fosse. 

Butch Cassidy (1969), de George Roy Hill 
Oslo, 31 de Agosto (2011), de Joaquim Trier

Às vezes tudo que a gente precisa é uma catarse pelo desespero. 

Normal People

Vou abrir uma exceção e comentar sobre uma minissérie aqui pois poucas coisas me definem e me marcaram tanto quanto Normal People. Fui atrás do livro, mas ainda fico com a série. É uma espécie de masoquismo, mas revelaram atualmente que ver filmes tristes libera endorfina, então bem, estamos perdoados. Não é rejeitar nenhuma idealização, mas focar mesmo num retrato bem identificável por um misto das gerações Y e Z neste crescer num mundo com falta de comunicabilidade, escondendo um pouco quem somos e os efeitos disto quando queremos receber e demonstrar afeto e sofremos um bloqueio mental. Como se sofrer fosse a única forma de sentir algo de fato, um purgatório emocional até perceber a necessidade do amor e afeto, e progredir, juntos ou separados, para essa aceitação. 

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E é isso, meus queridos e idas. Que seu 2023 tenha sido incrível, ao menos nos filmes, e que 24 nos reserve um calendário mais próspero e rico!

Não deixe de me seguir no Letterboxd para saber o que ando assistindo. 

2 comentários:

  1. Boa lista. Eu gostei bastante de Retratos Fantasmas e considerei a melhor coisa do ano. O doc me conquistou mesmo eu nunca tendo vivido nada daquilo e tendo visto poucas coisas do diretor ainda, formando a famosa falsa nostalgia. E, se por um lado isso me encantou, por outro fiquei alucinado com certos filmes pipoca desse ano. Aproveitando o problema citado no texto, nos últimos anos ando desmotivado a continuar a lista por ter muitos filmes que não consigo ver no mesmo ano, seja por tempo ou por não terem lançado no Brasil ainda (ou eu não ter encontrado na internet rs). Alguns filmes que muito provavelmente poderiam estar na lista final. Deve ter uns 10 pelo menos que não saíram ainda por aqui e quero ver, incluindo os que vc citou. Em 2023 vi cerca de 150 filmes inéditos, sendo uns 70 do ano, e fazia anos que eu não contava essas coisas. Tb foi o ano que fui umas 30 vezes ao cinema, coisa que acho nunca ter feito. [Por isso minha grana tava sumindo rs]. Segue minha lista, não necessariamente os melhores do ano em quesitos além, mas os que mais me agradaram em 2023.

    Retratos Fantasmas
    Godzilla: Minus One
    Guardiões da Galáxia: Vol. 3
    Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
    Oppenheimer
    John Wick 4
    Ninguém Vai Te Salvar
    Velozes e Furiosos 10
    Assassinos da Lua das Flores
    Tetris

    A menção a Gato de Botas 2 é valida e cito também, já que só lançaram no Brasil em 2023 mesmo, assim como Pearl. E o até agora inédito When Evil Lurks. Menções tb as biografias brasileiras Nosso Sonho (Claudinho & Buchecha) e Mussum O Filmis, muito divertidos de ver.

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    1. Valeu pelo comentário, Lucas. Dos filmes que mencionou, só não vi Tétris. Tenho um amigo que curtiu muito tb, e contigo comentando fico curioso, apesar dele ter passado bem por baixo do radar da galera durante o ano.

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