Oscar 2020 - Quem Leva, Meus Favoritos e Quem Não Pode Vencer




Fevereiro mal começou, e causa um tanto de estranhamento, mas o Oscar chegou. E enquanto muita gente lamenta o reinício das aulas ou anseia pelo Carnaval, aquela raça conhecida como cinéfilos aguarda o Oscar, como um pobre apaixonado, que não cansa de se desiludir e desapontar, mas tá sempre vidrado e fazendo intermináveis bolões de quem levará o que na mais premiada noite do cinema americano.

Brincadeiras à parte, é saudável saber que o Oscar não é um evento justo e democrático, e sim exposto a vários fatores externos ao mérito das produções envolvidas. Há muito trabalho offstage das produtoras e profissionais atrás de abocanhar sua douradinha, que trás muito glamour e aumenta o cachê e poder de demanda ao escolher projetos futuros. É a chantagem da sétima arte.

Portanto, sigo aqui minha tradição de comentar quase todas as categorias da estatueta nos seguintes termos:

Quem acredito que levará;
Quem eu gostaria que levasse;
Quem não pode passar perto;
Vez ou outra faço alguma inserção de quem poderia ter sido lembrado.

As categorias de curtas e documentário foram excluídas pois não tive a chance de conferir a maioria dos indicados.

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Edição e Mixagem de Som:

Vai levar: 1917. Olha, é difícil um filme de guerra bem feito passar batido nestas categorias, que raramente se dissociam. Pois é um gênero que depende do som pra funcionar, mais do que qualquer outro. Seu único rival é Ford vs Ferrari por também se basear muito em ruídos narrativamente. Porém, pelos louros e repercussão que o longa de Sam Mendes tem recebido, acredito que ambas estatuetas irão para seu filme.

Meus Favoritos: sim, o som em 1917 é incrível em nos transportar e fazer acreditar e sofrer perante o caos e o horror daquele ambiente. Mas, com todo respeito, não foge muito de tudo que já se presenciou em histórias similares. Por mais complexo que seja, já há referências, o que o deixa previsível. Eu gostaria que Era Uma Vez em Hollywood levasse edição, e Ad Astra Mixagem, pela dificuldade de se trabalhar no espaço, numa película mais intimista e calcada na jornada interna de um personagem mais do que a ação, o que o torna diferente de Interstellar, The Martian e Gravity, para deixar claro que não estou me contradizendo.

Não Pode Passar Perto: Coringa é léguas inferior que os concorrentes.

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Canção Original:

Vai levar(I’m Gonna) Love Me Again, de sir Elton John.

Meu favorito: adorei o hit da cinebiografia do Eltinho, muito melhor que sua composição para O Rei Leão (sério, nada deu certo nesse filme), mas acho que Stand Up, de Harriet, merecia por sua força temática, num ano consideravelmente fraco para a categoria.

Faltou aí: a Disney errou demais na canção promovida em Frozen II, optando por Into The Unknown mais pela métrica similar a Let it Go (mais um equívoco, já que aposta no sucesso do passado), enquanto o longa possui outras três faixas muito melhores, em termos emocionais, técnicos, performáticos e lúdicos. Em ordem de preferência: Lost in the Woods, All is Found e Show Yourself.

Não pode passar perto: pelo que disse, Into the Unknown.

Efeitos Visuais:

Vai levar: como disse James Franco, a categorias dos nerds. Acrescentaria aqui, subestimados e subvalorizados. 2019 foi o ano do fechamento da Moving Picture Company, responsável pelos encantadores efeitos de filmes como A Vida de Pi, O Rei Leão, Detetive Pikachu e o vindouro Sonic. O que é um ultraje considerando a bilheteria dos mencionados projetos e o esforço e competência dos profissionais, como ao reprojetar o novo Sonic após a polêmica com seu design original. Dito isto, apesar dos blockbusters, 1917 deve levar pela verossimilhança e naturalidade com que nos conduz pelos terrenos sombrios em um plano-sequência fake.

Meu favorito: O Rei Leão perdeu toda a alma com seu fotorrealismo absurdo. Então, podemos questionar sua utilização e resultado como entretenimento. Como criação, no entanto, é surreal, e os responsáveis merecem reconhecimento, pois fizeram o que lhes foi pedido com maestria. Azar de quem pediu.

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Não pode passar perto: Vingadores: Endgame. A Marvel só merece o prêmio quando conseguir recortar direito as cabeças flutuantes dos personagens em trajes mecânicos. Not today.

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Melhor Trilha Sonora:

Vai levar: Hildur Guðnadóttir, pela trilha de Coringa, abocanhou tudo até agora. E seria uma forma da academia compensar a negligência com mulheres nas outras categorias.

Meu favorito: eu me sinto péssimo por dizer que a única indivídua do sexo feminino a desbancar o machismo da indústria não deveria receber a congratulação, mas eu amei demais o trabalho minimalista e sutil de Alexandre Desplat em Little Women, que também seria uma forma de compensar o esnobismo dado ao clássico imediato de Greta. Mesmo onipresente, é uma trilha tímida, romântica e delicada, sem se destacar e extrapolar a imagem. Um esforço de mestre, e não um ato de egocentrismo. Já Hildur compôs o clima de Joker de acordo com o que a película pedia, calcada em seu violoncelo para conseguir acordes perturbados, umbrosos e soturnos. É uma baita trilha e não acho que seria uma vitória injusta, mas prefiro Desplat e o daria seu terceiro Oscar.

Não pode passar perto: todas são boas trilhas, e seria arrogância dizer que alguma não deveria estar aí. Mas acho que Williams ficou um pouco para trás, desta vez, apesar de tentar salvar o desastre chamado Ascensão de Skywalker.

Maquiagem:

Vai levar: O Escândalo foi feito já pensando na categoria ao optarem pela máscara que fizeram na transformação de Charlize Theron.

Meu favorito: não assisti a Judy e Escândalo, então me atenho.

Não pode passar perto: eu curti Coringa. Dei 4/5 e coloquei nos meus favoritos do ano. Mas estão me fazendo o depreciar por uma supervalorização incompreensível.

Figurino:

Vai levar: Little Women, ou Adoráveis Mulheres, no que deve ser sua douradinha solo.

Meu favorito: Little Women. Você pode pensar que longas de época facilitam o trabalho, são o sonho de figurinistas, mas aí está o brilho do projeto, se destacar num terreno que pende ao previsível. Cada personagem possui suas cores e significados de acordo com a personalidade, e a mãe de Laura Dern conjunta as paletas de todas as filhas. É sutil e brilhante por parte de Jacquelin Durran, que vencerá pela segunda vez, após Anna Karerina.

Não pode passar perto: deixa os outros levarem também, Sandy Powell. O Irlandês deve passar em branco.

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Design de Produção:

Vai levar: talvez a categoria mais imprevisível da noite, junto com animação. Creio que 1917 larga com vantagem, mas não me surpreenderia com as vitórias de Era Uma Vez em Hollywood, pela recriação da Lost Angeles de 1969, nem Parasite e as casas antagônicas e cheias de simbolismos das famílias.

Meu Favorito: ok, eu amei demais Parasita. É fenomenal nos detalhes projetados nas residências, tanto a moderna dos ricos, quanto o porão dos protagonistas.

Não pode passar perto: só gente boa aí, estou em paz.

Montagem:

Vai levar: Ford vs Ferrari, talvez seu único da noite. É a dinâmica das corridas, junto com o som, que movimenta e confere toda a energia e emoção do longa.

Meu favorito: poxa vida, a cena que culmina no Sr. Ki-taek levantando o lenço com sangue/molho da lixeira é a melhor do ano e por si só justifica a escolha. Parasite.

Não pode passar perto: Joker e Jojo Rabbit não são nada demais neste aspecto.

Fotografia:

Vai levar: após ser esnobado por décadas, Roger Deakins vai levar sua segunda estatueta em três anos.

Meu favorito: O Farol. Ah, o preto e branco e a brincadeira de luzes e sombras que isso permite.

Não pode passar perto: só gente boa, bicho.

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Filme Estrangeiro: 

Vai levar: Parasite.

Meu Favorito: Parasite.

Não pode passar perto: quem não se chama Parasite.

Animação:

Vai levar: nem sei. Missing Link pescou o Globo de Ouro, mas Klaus disparou ao vencer o BAFTA e o Annie, que desde 2015 coincide seu ganhador com o do Oscar (e em 2014 não deu match pois a Disney comprou a Academia pra Big Hero 6 bater o muito superior Como Treinar o Seu Dragão 2. Assim, Toy Story 4, que parecia amplo favorito, está de mãos vazias. E Frozen II nem foi lembrado.

Meu favorito: eu amo Como Treinar o Seu Dragão 1 e 2 e queria muito que tivessem vencido Oscar, e como não levaram, mesmo sendo inferior, seria lindo o encerrar da trilogia ganhar como homenagem. Mas não vai ocorrer. Missing Link é abaixo dos padrões da Laika, mas pelo que o estúdio representa, sendo único do ramo a investir na técnica do stop motion, acho um reconhecimento importante, além de quase ter falido ano passado. O melhor destes, mesmo, é I Lost My Body, mas a história de Woody tem sido desmerecida injustamente por ser uma terceira sequência, visto que é lindo demais. Maaaaas, eu adorei mesmo é a continuação da fábula de Anna e Elsa.

Faltou aí: Frozen II, bicho. Gostei mais do que todos, mas aí tem fator biased. De todo modo, é melhor que Missing Link e CTOSD 3.

Não pode passar perto: Missing Link, novamente, é o pior. Mas o Laika precisa disso, então fico quieto.

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Roteiro Original:

Vai levar: Parasita é o favorito, após levar o sindicato dos escritores. O primeiro non-english a fazer isto.

Meu favorito: Parasita, obviamente, apesar de Tarantino mais uma vez ter nos entregado uma baita pérola.

Faltou aí: Midsommar é inesquecível. Um pecado sua ausência.

Não pode passar perto: não faz nem sentido 1917 estar aí.

Roteiro Adaptado:

Vai levar: Jojo Rabbit tem feito carreira, venceu o sindicato e o BAFTA.

Meu favorito: Adoráveis Mulheres, que filme, que texto. Após deixarem Greta de fora em direção (mas lembraram do Todd Phillips!!!!!!), podem tentar recompensar, o que me deixaria muito feliz. Mas não creio.

Não pode passar perto: Taika Waititi é foda. Esqueçam Thor: Ragnarok e assistam suas películas neozelandesas, que são divertidas, verdadeiramente originais e sempre conscientes. Jojo Rabbit se aproxima mais disto, mas já traz demais da manipulação sentimental americana, e por isto, apesar do conceito ousado e bem executado, sendo o favorito, acho contraproducente até mesmo para o diretor/roteirista, que se for laureado por este estilo, abandonar sua personalidade original em prol do sucesso na terra do Tio Sam.

Ator Coadjuvante:

Vai levar: Brad Pitt varreu a concorrência e somente aumentou as chances com discursos perspicazes e afiados.

Meu favorito: Brad. Vai que é sua. Primeira dourada como ator, após já ter levado como produtor por 12 Anos de Escravidão, em sua excelente produtora, a Plan B.

Faltou aí: Sam Rockwell por Jojo Rabbit e Tommy Lee Jones por Ad Astra. As categorias masculinas de atuação estão insanas este ano, ao deixarem nomes como estes de fora de basicamente qualquer prêmio. Porém, especialmente Rockwell, deveria estar no lugar de Anthony Hopkins.

Não pode passar perto: todo mundo tá bem, mas como disse, Hopkins preteriu performances melhores.

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Atriz Coadjuvante:

Vai levar: Laura Dern, pelo mesmo motivo de Pitt.

Minha favorita: Laura Dern, uma consagração pela sólida carreira que teve. Amo Florence Pugh , que ainda vai aparecer muitas vezes aí.

Não pode passar perto: não pude assistir ao novo de Eastwood e Bombshell, tampouco Hustlers, então fico quieto.

Ator:

Vai levar: Joaquim Phoenix.

Meu favorito: Adam Driver. Sua raiva e pesar contidos, como na cena final e seu queixo tremelicante enquanto lê a carta de sua ex-esposa, é o momento mais tocante do ano.

Faltou aí: como disse, as categorias masculinas estão uma savana de tão competitivas. De Niro, Adam Sandler, Bale, o próprio Pitt por Ad Astra...são performances fenomenais demais deixadas de fora, e mesmo assim, quem dos cinco tirar?

Quem não pode passar perto: os homens estavam inspirados demais. Bato palmas.

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Atriz:

Vai levar: a renascida Renée Zellweger. Até o Spirit venceu.

Minha favorita: assim, eu nem vi Judy, então não vou desmerecer a Renée. Mas do meu ponto de vista, criar é mais fácil que imitar. Renée vive uma personalidade histórica, uma queridinha da indústria em seus anos clássicos. Enquanto Scarlett, em Marriage Story, engloba uma fusão de sentimentos e reações feministas, canalizadas com força e paixão. Sou apaixonado por Saoirse e sua hora ainda vai chegar. Mas não dessa vez.

Faltou aí: VOCÊS VIRAM FLORENCE PUGH EM MIDSOMMAR? A guria é uma força da natureza. É indignador ficar de fora.

Não pode passar perto: só bato palma para o que vi, mas faltou a Florence.

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Diretor:

Vai levar: Sam Mendes.

Meu favoritoBong Joon Ho, um gênio em ação.

Faltou aí: eu gostaria de ver os malabarismos retóricos de quem votou no Todd Phillips e não na Greta. É ofensivo.

Não pode passar perto: Todd Phillips e, em menor grau, o provável vencedor, Sam Mendes.

Filme:

Vai levar: 1917.

Meu favorito: PARASITE. Quando a década acabar, no final deste ano (pois é), tenho convicção que Parasite será Top 5 dos melhores, e nem é a magnum opus do Bong, cargo que fica com o seminal Memórias de um Assassino.

Faltou aí: assim, eu gosto de todos os indicados. mas Ford vs Ferrari, 1917 e Coringa não são merecedores da memória, estando bem abaixo de Ad Astra e Midsommar.

Não pode passar perto: minha ordem dos indicados é: Parasite > Marriage Story = Little Women > Once Upon a Time in Hollywood > Irishman >>>>>>>>>> Jojo Rabbit >>>>>>>>>>> Joker >>>>>>>>>>>>> 1917 >>>>>>>>>>>> Ford vs Ferrari. Façam os cálculos.

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E é isso. Quais são seus palpites?

Lembrando que Oscar não é sinônimo de melhor. Quase todos os indicados são bons, mas não necessariamente os vencedores são os melhores, então não se estressem e aproveitem a festa.

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