Oscar 2021 - Quem Leva, Meus Favoritos e Quem Não Pode Vencer

Oscar 2021. Última temporada de Dexter. Johnny Depp em Animais Fantásticos. Olhar se tem toalha antes de tomar banho, ou papel antes de sentar no vaso. O que essas coisas têm em comum? Ninguém lembra delas. O prêmio da academia em 2021, após o ano mais insólito da sétima arte em muito tempo, talvez desde a Segunda Guerra Mundial, surge numa época que soa como uma ida à praia no meio de Junho: fora de estação. Anticlimática. Vazia. Estranha. 

Se poucas vezes significou mais do que um banal glamour, ainda assim era um evento de alcance e repercussão global, com poder de comoção tanto de quem só curte um filminho, quanto de cinéfilos radicais, por mais que estes adorem reclamar dos vencedores e indicados. É, afinal, o Oscar. Mas dessa vez, pouco dessa sensação mundial de evento permaneceu. Assim como nos indicados, com uma série de mudanças exigidas nas regras da academia e alterações no calendário de lançamentos que permitiram um cenário paradoxal: ao mesmo tempo bacana por dar mais espaço aos Indies e aumentar a representatividade, mas também algumas nomeações bastante forçadas para preencher um quórum devido falta de opções.


Confesso que considerei deixar de fazer o post em razão das circunstâncias, mas para manter a tradição, afinal, algumas ainda são importantes, resolvi mantê-la. Lembrando que nem pensem em apostar nada sério baseado nisso, até porque eu erro cada vez mais, mas por vezes fico feliz por isso - vide ano passado, quando 1917 era franco favorito a tudo, e Parasite (o melhor filme da década passada) protagonizou a cerimônia mais gostosa da história do Oscar - e quem pensa diferente é feio. 

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Vou deixar as categorias de curtas e documentários fora, pois não conferi os indicados e não quero somente fazer uma cópia de outros sites que elegerem os favoritos. Portanto, começando pelas técnicas, vamos lá:

Melhor Som:

Vai Levar: O Som do Silêncio é o único filme aqui cujo o ruído é fundamental para a própria ideia por trás da obra, não somente complementar, como intrínseco. Seria um desaforo não dar a ele a estatueta.

Meu Favorito: O Som do Silêncio. É um vencedor óbvio e quase unânime. 

Não Pode Passar Perto: Mank? Relatos do Mundo? Talvez algo como O Homem Invisível e Tenet merecerem melhor a indicação. 

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Canção Original: 

Vai Levar: Speak Now, de One Night in Miami, segue uma cartilha forte das últimas temporadas, que é, numa competição normalmente fraca e esquecível, premiar quem oferece a mensagem mais poderosa e atual. Um troféu por descarga de consciência, que aqui também beneficia um filme que muitos alegam ter sido injustiçado no geral. Pessoalmente, a última vez que curti uma canção original vencedora foi Skyfall. 

Não amei exatamente nada para ter favoritas ou odiadas. É uma tônica desse ano. Falta de escolhas. 

Efeitos Visuais: 

Vai Levar: Tenet. Levou o BAFTA, o parâmetro mais fiel ao Oscar desse século, enquanto Midnight Sky venceu o sindicato, mas nunca demonstrou muito afeto do público para ser lembrado. E apesar de Nolan ter arranhado um pouco a imagem forçando o lançamento de Tenet no meio da pandemia, ele ainda é um nome forte e muitos vão lembrá-lo por osmose. 

Meus Favoritos: os blockbusters forma os mais afetados pelo fechamento dos cinemas, então muitas obras que poderiam estar aqui foram adiadas fora do limite para receber indicação. Godzilla x Kong, passado a este ano devido à pandemia, seria um favorito óbvio, por exemplo. A proposta inovadora de Tenet, se naufraga na execução, convence nos efeitos, até por seu tremendo orçamento. Seria uma vitória justa.

Não Pode Passar Perto: Mulan tem muito efeito duvidoso e com cara de inacabado. Além do mais, mesmo que seja uma categoria técnica, não merece botar um "Vencedor do Oscar" em seu pôster.

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Melhor Trilha Sonora:

Vai Levar: Soul. Mesmo que eu esteja um pouco saturado da Pixar, ainda agora que ela finalmente alçou representatividade ao protagonismo, a trilha anda em plena sintonia com o que o filme pede e trabalha, sendo essencial para seu desenrolar.

Meu Favorito: Não quero parecer defensor de Tenet, tampouco gostei do filme. Mas a trilha do dinamarquês Ludwig Göransson, já vencedor da estatueta por Pantera Negra, é o que dá vida e emoção nas cenas de ação pragmáticas e pouco inspiradas de Nolan, esticando um pouco mais uma corda que até então teria se arrebentado muito antes. Primeiro trabalho de Nolan sem Hans Zimmer desde Batman Begins, e talvez ele opte por seguir com o realizador. Que não tenha sido indicado é um mistério tão grande quanto a bela trilha de First Man, a melhor de 2018, ter também sido negligenciada por outras bastante inferiores. 

Não Pode Passar Perto: por algum motivo Mank, dos mesmos compositores de Soul, aparece como principal concorrente. Só que bem, assim como tudo naquele filme fora alguns momentos de atuações alheias, tudo soa demasiado sem alma e frio. 

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Maquiagem e Cabelo / Figurino 

Vai Levar: A Voz Suprema do Blues. Outras bastante previsíveis. Nem me dou ao trabalho de discordar. Não assisti todos os indicados para tecer favoritos pessoais. 

Design de Produção:

Vai Levar: Mank. Com 10 indicações, a maioria delas protocolares, o filme de Fincher vai ser o maior derrotado da noite, e se tem alguma chance de não sair completamente varrido e com louvor, é aqui, numa bela recriação da Hollywood dos anos 30, o que favorece bastante a vitória por saltar aos olhos e exigir justamente um reforço nestes aspecto - muito bem feito, é claro. Merece. 

Montagem: 

Vai Levar: O Som do Silêncio abocanhou o BAFTA e Os 7 de Chicago levou o BAFTA, e a competição está bastante restrita entre os dois. Com uma linearidade intercalada, a vitória da obra de Sorkin é uma escolha bastante previsível por sua própria narrativa que expressa mais obviamente o trabalho da edição, o que também é bastante preguiçoso, porém algo propiciado pelo método de votação do Oscar. 

Meu Favorito: Acho incrível e de indignar como subestimam O Som do Silêncio, e ficaria bastante feliz se levasse. O trabalho de Meu Pai também é fortemente associado à montagem, numa escolha perspicaz e próxima do genial para dialogar e transmitir a desorientação causada pelo Alzheimer. São opções mais sofisticadas que Chicago. 

Não Pode Passar Perto: Promising Young Woman, Nomadland e Chicago, infelizmente o favorito. 

Fotografia:

Vai Levar: Nomadland levou o BAFTA, enquanto Mank buscou o ASC, Oscar da fotografia, mas que não possui muita sintonia com os vencedores do próprio Oscar. Acho vencedores justos e complementares por seus estilos a quem busca estudar ou observar um bom trabalho no quesito. 

Não Pode Passar Perto: Relatos do Mundo e Os 7 de Chicago são pra americano ver. Fotografia boa não é só fotografia bonita, e sim aquela que dialoga com o filme. 

Filme Estrangeiro:

Vai Levar: Another Round é o franco favorito por ter tido seu cabeça - Thomas Vinterberg - indicado na categoria de direção. Não assisti todos, mas apesar de ter curtido o longa de Hong Kong, Better Days, a vitória da obra boêmia seria digna. 

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Faltou aí: o taiwanês A Sun, seria uma boa pedida. 

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Animação:

Vai Levar: o tempo mostrou que Pete Docter, por anos atrás das sombras de Stanton e Lasseter, é o verdadeiro epicentro criativo da Pixar, e em sua 9ª indicação, tem tudo para levar seu 3º Oscar - novamente por melhor animação, após Up e Inside Out, duas das fitas mais emotivas e sensíveis do estúdio. Numa era fraca e repetitiva da Pixar, é ele quem segue se destacando. Vai dar Soul. 

Meu Favorito: olha, eu curti muito Digimon: Last Evolution Kizuna, mas sei que sua indicação seria impossível, e muito de meu sentimento é nostalgia. Wolfwalkers tem uma técnica e um folclore lindos e de cair o queixo, mas não deixa de ser o filme mais comercial e básico narrativamente do Cartoon Saloon. O setor da animação passa por uma crise de ideias, e se a Pixar e a Disney sempre foram favoritas por seu poder na indústria, agora fica ainda mais fácil e inquestionável. 

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Roteiro Original:

Vai LevarEmerald Fennell, de Promising Young Woman, levou o sindicato e o BAFTA, e deve se tornar a segunda mulher, após Diablo Cody, de Juno (2007), a vencer a categoria. Aaron Sorkin ficou com o Globo de Ouro por seu nome, justamente num troféu que adora holofotes e celebridades. Bastante óbvio, até dever moral ir em Emerald. 

Meu Favorito: Promising é intenso, relevante e ousado, mas a doçura, candidez e força de Minari conversaram muito comigo, de modo que adoraria vê-lo vencer. Além disso, acho que First Cow e Soul mereciam a nomeação. 

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Roteiro Adaptado: 

Vai Levar: há boa competição aqui. Meu Pai levou o BAFTA e Borat 2 o sindicato (qual Nomadland não estava elegível), mas a fita de Chloe Zhao venceu sua porção de prêmios com o USC e o Critic's Choice. O vencedor de melhor filme costuma levar pelo menos numa das categorias de roteiro. Não será Promising nem Os 7 de Chicago, e acho difícil Meu Pai e Borat terem força, principalmente o segundo. Então apostaria em Zhao. Achei estranho não terem lembrado de Charlie Kaufman, não que tenha sentido sua falta. O ano está bem mais interessante na categoria original. 

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Ator Coadjuvante:

Vai LevarDaniel Kaluuya, sempre uma força da natureza, varreu a temporada de premiações e é uma dessas apostas seguras de se arriscar até a casa. 

Meus Favoritos: todos estão maravilhosamente bem, e numa indústria que ainda privilegia os homens, muito dos melhores papéis ainda são escritos sobre e para eles. De modo que há mais versatilidade. Não assisti One Night in Miami e gostei do esforço dos outros 4 indicados, mas especialmente LaKeith Stanfield, finalmente sendo reconhecido após anos de destaque tímido como coadjuvante, merecia mais atenção. O filme acontece por seus olhos, num personagem mais complexo e introspectivo que o de Daniel, que domina a tela, mas numa figura mais expansiva e fácil de dominar fisicamente. 

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Atriz Coadjuvante:

Vai Levar: Yuh-Jung Youn venceu o sindicato e o BAFTA, e sua vitória também pode ser a única de Minari, uma consolação para uma grande obra, mas também uma recompensa pela interpretação doce, firme e multifacetada de Youn, numa competição muito bem nivelada. Não vai ser dessa vez (de novo), Glenn Close. E eu suporto qualquer vitória de Minari, um de meus favoritos do ano passado. 

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Ator: 

Vai Levar: há uma injusta impressão de que a morte de Chadwick Boseman o erigiu ao favoritismo da categoria, quando ela viria de qualquer forma pela atuação robusta, mas também desalentadora do ator como um musico que aspira sucesso, somente para encontrar uma parede de tijolos tirando-o a perspectiva. Existem filmes bons e importantes, e são as atuações que mais se destacam em A Voz Suprema do Blues. Porém, o renascido Anthony Hopkins, também soberbo, ganha confiança e terreno após levar o BAFTA. 

Meu Favorito: nenhuma reprimenda. Nível absurdo de competição. Fico nessa ordem: Boseman > Hopkins > Riz = Steven > Oldman. Qualquer que leve entre Chadwick, Riz e Yeun, teremos um momento emocionante e histórico na premiação. 

Não Pode Passar Perto: como disse, nível estrondoso de todos, mas Oldman está mais caricato e preso do que em seus melhores projetos, mesmo os esnobados pelas cerimônias formais. De toda forma, sou fã do ator e fico feliz com seu reconhecimento recente, por mais que seja em papéis protocolares e "feitos para premiações". Após décadas interpretando loucos e espíritos livres, ele escolheu deixar um legado mais estabelecido na história por escrituras em estatuetas, e ninguém o pode condenar por isso. 

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Atriz:

Vai Levar: talvez a categoria principal mais incerta da noite, surge com 3 francas candidatas ao pleito. Carey Mulligan levou o Critic's Choise Awards, Viola o sindicato e Frances o BAFTA. Qual conta mais? Exercício inútil. Acredito que o poder de Nomadland deve levar McDormand à sua 3ª estatueta de atriz principal, um feito honrável para uma das maiores de sua geração. Ainda assim, quem quer que leve (nota: ainda não assisti Billie Holiday para avaliar Andra Day), terá a estatueta em boas mãos.

Minha Favorita: em ordem: Carey > Vanessa Kirby > Frances > Viola. Não vou incluir um trabalho que não assisti na lista, porém me surpreendo que seja logo Kirby a menos provável da noite, quando só seu esforço na angustiante cena do parto ultrapassa as outras duas candidatas.

Diretor:

Vai Levar: a derrota de Chloé Zhao seria como a Coca-Cola não ser o refrigerante mais vendido do ano. Ela varreu a concorrência no Sindicato, BAFTA, Critic's Choise e até o Globo de Ouro, unindo gregos e troianos. Tem tudo para marcar um momento mágico e se tornar a segunda diretora a vencer o prêmio, após Kathryn Bigelow.

Meu Favorito: em ordem: Lee Isaac Chung (Minari, já disse que amei?) > Zhao > Fennell (Promising Young Woman) > Vinterberg. Fincher está por nome em seu filme mais frio, automático e desgostoso. Darius Marder, por O Som do Silêncio, fez mais com menos. 

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Não Pode Passar Perto: por motivos já comentados, Fincher. 

another round mads mikkelsen

Filme: 

Vai Levar: Nomadland levou tudo. Sindicato de produtores e diretores, BAFTA e Globo de Ouro, basicamente eliminando exemplos passados por exceção. Porém, a academia andou quebrando normas e previsibilidade ultimamente, ao não premiar os favoritos, merecidamente ou não (Brokeback Mountain, Revenant, La La Land, e, é claro, 1917). Não é uma segurança absoluta, mas segura. 

Meu favorito: em ordem: O Som do Silêncio > Minari > Promising Young Woman > Another Round > Nomadland > Meu Pai > Chicago 7 > Judas e o Messias Negro > Mank. Os dois primeiros eu amei, os dois seguintes curti bastante, os outros 2 eu curti consideravelmente, Judas achei filme de algoritmo, e Mank parece um manifesto de desencantamento com o cinema quanto mais penso nele. Um exercício mais técnico do que tudo. Ai, Carlos, mas tu não curtiu o Nomadland então? Sim, mas achei aquele Indie de Bingo, preenchendo requisitos de cinema independente. Tocante, mas olvidável ao máximo. Sinônimo de uma premiação que, por mais representativa que seja, se tornou fruto das condições acima de méritos. 

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E é isso, meus queridos e idas. Vamos ver se me saio melhor dessa vez, após passar vexame (mas feliz demais pelas vitórias inesperadas de Parasite) em 2020. Deixem suas apostas abaixo, e não metam dinheiro na jogada. 

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