Do Pior ao Melhor - Os Filmes de Herói Lançados em 2021

Após se ausentar durante o insólito 2020 por falta de material, o Devaneios retorna com sua tradicionalíssima e esperada lista dos melhores filmes de herói do ano, bastante movimentado em lançamentos, mas não exatamente em qualidade, risos. 

Se o Corona continuou matando muita gente, assim como alguns governos incompetentes, nas grandes telas, refletiu-se uma meditação sobre estes seres tão dotados, seja na auto-referência de Eternos ou no Peter Parker de Holland finalmente encontrando o próprio caminho. Um ano, acima de tudo, de sacrifícios.

Confira também as listas de 2017, 2018 e 2019

E do pior pro melhor, vamos lá (lembrando que só entram filmes, e não séries):

Venom: Tempo de Carnificina 


O filme se vende e até é, em certo ponto, uma resistência ao estilo preponderante no gênero de heróis atualmente. Só que ELe demonstra, com frequência, uma necessidade de ser reconhecido como equivalente, como igual a Todo o pastiche que vemos na Marvel e DC. Nisso, o primeiro filme, que pegou Todo Mundo desprevenido naquele tom zoeiro enquanto se esperava algo sério, talvez tenha mais acertado "sem querer" do que o feito consciente

Neste segundo filme, há o benefício da falta de ineditismo, de saber que o público já abraçou a proposta do original. Serkis poderia usar Isso para adotar a loucura como argumento narrativo, de Venom como um cachorro louco, mas as amarras do gênero estão lá como um lembrete perene de não ir longe demais a ponto de tornar irreversível ser inserido no lucrativo MCU - ou algum derivado futuro da Sony. Nada disso poderia ser mais simbólico do que chamar Woody Harrelson pra um papel de sandice e não clamar pelo overacting.

O longa se contenta no comprometimento de Hardy com o papel de loser controlado por um mutualista maníaco e nas interações intensas entre eles. O humor através do incompatível em ver uma figura imponente e de voz grossa demonstrar sentimento e civilidade. Quando vai pra ação, que não deixa de ser sua maior parte, é aquele jogo escuro e rápido, sem inspiração de sempre que aí sim o equivale à grande parte do repertorio Marvel.

Nada disso é mais expositivo que a cena pós-créditos. A irreverência é um meio, mas nunca o fim. Nisto, o verdadeiro parasita é a própria Marvel e sua cadeia criativa chamada de multiverso.

Viúva Negra


Crítica

Um filme por si só retrógrado em todos os aspectos: narrativa e historicamente. Avulso numa linha temporal já no passado do que eventos anteriores haviam mostrado, o que consequentemente esvazia a urgência da trama e coloca em cheque a seriedade da obra, assim como completamente ausente de criatividade no modo de lidar com a personagem e o mundo. Cenas de ação são o ponto baixo em um ano em que a própria Marvel desaprendeu a filmá-las, e conta com uma das piores atuações da temporada, no histrionismo medonho de David Harbour. Único sobressalente foi a apresentação da personagem de Florence Pugh. 

O Esquadrão Suicida

Crítica.

Um Guardiões da Galáxia sem censura que só poderia ser fruto da mente de um nerd que se acha muito mais engraçado do que é e que a maturidade vem do sangue. Um filme excessivo não nas virtudes, mas no flerte burocrático com um absurdo cansativo, vide o próprio Venom 2. 

Liga da Justiça de Zack Snyder

Crítica

Um filme surgido na polarização, a Liga de Snyder é uma grande vitória do cineasta e seus fãs, mas mais pela sua existência do que o saldo final. O filme melhora, evidentemente, o retalho de Joss Whedon pelo simples fato de ter uma visão clara, e mesmo os vícios irritantes de Snyder são atenuados pelo ganho emocional e moral do filme através das experiências pessoais que o cineasta enfrentou neste período, trazendo sua dor para humanizar os deuses da DC. Visualmente, porém, segue sendo um deserto dentro do realismo monocromático que o diretor tentou e fracassou imprimir no universo da DC. 

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis

Crítica

A história da Marvel em um filme: um projeto cheio de potencial e que poderia ser único sabotado pelo pluralismo unidimensional que deve interligar cada filme e personagem com outros 30. Apresenta uma introdução maravilhosa de Wuxia e uma luta urbana e menos grandiloquente com grande coreografia, tudo isso em sua primeira hora. Depois, desaba em humor intromissivo e o uso irracional de locações noturnas sem iluminação que bloqueiam a tela, um problema compartilhado por tudo que o estúdio fez no ano. Inexplicável. 

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

Crítica

"Sem Volta para Casa talvez seja o ápice do Projeto Marvel. Mais de um ano angariando expectativa e movimentando teorias. O que menos importa é o filme. É algo tão multimídia quanto o multiverso. Mas ainda é um filme por essência, e como tal, que subestima a Arte como Mero aparato de choque e imediatismo. O ator da infância que surge em tela. Aquele vilão da outra vez. Não interessa muito o papel disto como um todo, mas a mera existência. É o cinema como mercantilismo.".

Eu escrevi isso no dia seguinte à pré-estreia. De certa forma, o filme cresceu um pouco comigo neste período. O apego emocional a Tobey, Andrew assumindo o aranha com uma simpatia e segurança que jamais conseguiu em seus momentos solo, e um Tom mais maduro como ator e personagem, finalmente assumindo as rédeas do próprio destino. Talvez mereça uma revisita no futuro. 

2º Eternos

Crítica

Num cinema americano dominado pela Marvel, que agora dita tendências, a regra da vez é ser inofensivo e abrangente. Não na representatividade, mas para todo mundo sair do cinema dando umas risadinhas com sensação de leveza. Sem desafios e com a única ousadia sendo evitar os spoilers. Chloe Zhao certamente foi vítima do multiverso compartilhado, mas mesmo assim conseguiu incutir sua assinatura humanista e criar um épico metalinguístico entre heróis e deuses e seu papel. Um filme que aceita a lentidão da vida e o vazio da morte enquanto pode evitar as piadas protocolares. Merecia melhor leitura por parte do público.  

Batman: O Longo Halloween, Partes 1 e 2


Teoricamente, são dois filmes, mas como seguem a mesma história e são curtos, vou considerar como um, que engrandece a obra. 

Houve um tempo, muito distante, em que eu correria para assistir ao próximo DC Animation. Mas eles se perderam completamente nos últimos anos. Batman foi drenado até a última gota em longas patéticos e baratos, mas finalmente eles acertaram com um grande comeback, que basicamente evoca os elementos que fazem o morcegão o herói mais fascinante do panteão de elite do gênero. 

Isso poderia ser facilmente feito por Nolan em seu ápice. O clima noir e melancólico de Gothan e a paranóia em torno de um quebra-cabeça labiríntico e a negação para aceitar a realidade. Todos as vantagens da animação são expandidas para a atmosfera bem análoga aos quadrinhos, no melhor sentido. 

Um grande trabalho. 

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E é isso, meus queridos. No geral, um ano fraco para um gênero cada vez mais saturado. Ano que vem temos vários projetos interessantes chegando, com o aguardado Batman já no começo do ano. Que seja melhor!!!

Um comentário:

  1. Boas colocações e resumos certeiros. Não que eu concorde com tudo, mas a maior parte sim. Gostei das imagens escolhidas kk

    Minha lista ficaria: 1 - Liga da Justiça / 2 - Homem-Aranha 3 / 3 - Eternos / 4 - Batman Dia das Bruxas / 5 - O Esquadrão Suicida / 6 - Viúva Negra / 7 - Shang-Chi / 8 - Venom 2

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